quinta-feira, julho 31, 2008
Poll Renivaldo Pereira de Jesus
OK, agora que todos já compreenderam, revelamos que os vencedores da Poll "Renivaldo Pereira de Jesus" - que dá acesso à "Supra Poll Final" - são os seguintes:
- Luís Filipe (18%)
- Andrés Diaz (17%)
Também aqui se assistiu a um campeonato da 2ª circular, mas desta feita não houve Vitória que se intrometesse pelo caminho - apesar das esforçadas tentativas de Alan e Radanovic(infrutíferas, porém...não basta ser mau, há que parecê-lo também).
Desta vez o clube de Marian Had não levou a melhor, portanto o campeão incontestável da inabilidade psico-estética do tecnicismo táctico é mesmo o seu vizinho vermelho. Olarila.
Assim sendo, à constante imbecilidade de Luís Filipe sobre o tapete e aos míticos sessenta segundos de Andrés Díaz juntam-se o novel desertor Armando "Le Petit" Teixeira, o esteticamente apelativo Delson, o sonante Mrdakovic e até o ex-companheiro de Bruce Banner Edu Castigo.
Estes nomes mais ou menos hilariantes formam a palete de cepos que nos vai ajudar a pintar a tela com o retrato do Cromo do Ano 2007.
Participem, não sejam acanhados. Clickem no Putnik que acharem mais meritório, e esperemos em conjunto que o Clóvis final seja um tudo nada melhor que um Luís Cláudio.
Vemo-nos lá. Um Pestalic apertado para todos.
terça-feira, julho 29, 2008
Do Fundo do Baú
Titó agregou o “Ti” de Tinaia com o “To” de Tonanha e adicionou-lhe um acento. Perfeito.
Titó ainda hoje sobrevive no imaginário do bom camionista, que ostenta matrículas com letras garrafais coladas ao pára-brisas. “TITÓ”, pode ler-se por aí, com uma Miss Baixa da Banheira ’89 no calendário ao fundo.
Titó ouvia Chitãozinho & Xororó no seu popó. E, ocasionalmente, as ondas acústicas levavam Titó a fazer cocó.
Titó, quem não sabe?, jogou na Ovarense. E, curiosamente, gostava de pão-de-ló.
Se examinarmos bem, há um pouco de açúcar no nariz abatatado de Titó.
É açúcar de filhó. Feita pela avó. Só para ti, Titó.
Olá Titó.
Foi um prazer, Titó.
Ciro.
Parente afastado do Saci Perêrê, que era o seu mentor espiritual. Distinguia-se da personagem do Sítio do Picapau Amarelo por possuir duas pernas, ao contrário do seu parente aos saltos – o que lhe valeu uma estadia de sonho em Portugal. E logo para jogar à bola.
Saci, que ainda teve contactos para ingressar num grande, não lhe perdoou a traição. Nunca mais jogaram à macaca juntos.
Além do mais, Ciro não fumava cachimbo nem usava barrete vermelho, excepto em reuniões de família. E era feliz, feliz, feliz.
Floribella é apenas uma desempregada suburbana maníaco-depressiva que ouve os êxitos dos Joy Division quando comparada com a felicidade de Ciro.
A luz do seu sorriso e o brilho dos seus olhos foram reconhecidos internacionalmente. A cidade de Milão homenageou-lhe: chamou o seu estádio em sua honra e elevou-lhe à condição divina.
O facto de terem trocado o “C” pelo “S” em nada ofusca a inabalável alegria do nosso Ciro, antes pelo contrário. O contentamento de Ciro é imune até ao facto de o terem colado torto nesta caderneta.
O problema italiano de trocar letras é conhecido. O pai do internacional Ciro Ferrara colocou este nome ao filho por estar embasbacado com as qualidades de Ciro e por gostar de carros vermelhos de F1.
Pedra.
Diz quem viu que este jogador era uma. Esteve quase, quase, a entrar nos Da Vinci do casal Lei Or e Pedro Luís, grandes cromos por si próprios. Porém, distraído a aprumar o seu cabelo, não apanhou o primeiro barco da manhã para o Terreiro do Paço, falhando assim por minutos o seu encontro com a música pop. Por isso, Pedra diluiu a sua frustração treinando futebol na Margem Sul, enquanto os Da Vinci iniciavam a sua desastrosa tournée “Birame In Wonderland”.
Mas lá que Pedra tinha uma bonita mullet, lá isso tinha.
Jogou no Amora, e isso, por si só, é motivo de reconhecimento público. Havia falta de dinheiro no clube, o Amora estava em ruínas. Então, Pedra demonstrou toda a sua versatilidade: quando não emprestava a sua solidez à equipa dentro de campo, preenchia a parte do muro contíguo ao relvado que tinha desabado – Pedra é para isso mesmo. Ainda era melhor como muro do que como central de marcação e chegou mesmo a ser pintado pela publicidade.
Há aqueles que são Zé da Rocha, há quem seja Pedras e há muitos e muitos calhaus por aí, mas Pedra só há um. Este central semelhante a um bloco calcário e mais nenhum.
Ganda Pedra, pá.
quinta-feira, julho 24, 2008
Super Cromos
Quando o Tricampeão Nacional contratou o alter-ego de Bruce Banner para jogar à bola, muitos pensaram tratar-se de mais uma investida inovadora e brilhante de Jorge Nuno, sempre arguto nas suas contratações menos ortodoxas (ver Cavaleiros do Apocalipse), que acabam por redundar em activos vendidos a uma equipa estrangeira por dezenas de milhões de euros (não ver Cavaleiros do Apocalipse).
Em pouco tempo, pensámos nós, todos os clubes de renome iriam seguir as pegadas azuis por aquela estrada de resíduos radioactivos abaixo.
Mas eis que o telefone toca. É Hans Vimmo Eskilsson, directamente de um torneio de poker que acabou de perder por ser alto, loiro e tosco. Isto, apesar de já não ser loiro. Mas continua a ser alto e tosco.
Hans parece transtornado. E não é pela palavra "bluff" se adequar mais à sua carreira de futeboleiro do que à de gajo que bota a bisca na mesa. O Deus nórdico faz questão de relembrar aos media portugueses que o Incrível Hulk não é o primeiro super-herói a jogar no campeonato local( apesar de ser o primeiro mamífero a trocar a 2ª Liga Japonesa por um clube de renome com uma soma avultada de cash de permeio).
Num assomo de modéstia e altruísmo, o homem-bluff revela o nome do benfeitor: ele próprio. Thor.
Porém, numa saudável anarquia similar a um fórum da Sport Tv com a participação extemporânea de um presidente com gigantismo auricular, chega outra opinião. Sorridente, mas ligeiramente descontrolada numa fúria disfarçada:
- "Cara, cê é burro mêmo. O primeiro só pode ser eu."
Anos a fio arrasando médios e alas direitos a torto e a direito, com um sorriso nos lábios e manha na chuteira, ninguém viu outro herói daquela maneira.
Eia, rimou.
Por falar em rimas...
"Vais partir/naquela estrada/onde um dia chegaste a sorrir". Ecoam as doces palavras cantaroladas pelo sempre cheiroso baladeiro Clemente.
Ok, afinal não rimou. Mas o importante aqui é apreciarmos a irónica subtileza desta deliciosa melodia, que subtilmente nos diz que não podemos ser felizes por duas vezes no mesmo local.
No caso do nosso Kal-El bronzeado, esse local é uma baliza. Um jogo? Pfff. Chega. Back to Zimbabwe. Or Congo. Whatever. Baza.
Ah, a América.
América do Norte.
Não, isso não: Estados Unidos da América.
Assim está melhor, afinal queremos deixar o Canadá de fora, não nos vá dar vontade de falar de Fernando Aguiar ou do Torneio Skydome. Isso nunca.
Num País arrasado pela violência, ausência de valores morais e filmes com a Sandra Bullock, procura-se um herói. Eis que surge, por entre uma névoa que grita esperança aos quatro ventos, o salvador de uma Pátria destroçada:
Zach Thornton, o Capitão América.
- "What now?Save the US of A? Hell, no. There are people overseas, who need my immediate help. Their suffering is unbearable."
Doze horas depois, chegou ao Benfica.
Mas esta debandada do seu herói preferido não deixou destroçado o País de Freddy "Nii Lamptey v2.0" Adu.
Nada disso. Clamavam por um paladino da liberdade ainda mais viril. Mais barbudo, Mais impiedoso. Mais versado na arte de detectar quedas de avião pelo sabor do solo com 15 anos de retroactividade.
Walker é o seu nome, e a dor é a sua profissão.
Porém, deixou prontamente o seu nativo Texas para a Madeira sob a premissa:
- "I got bigger fish to fry."
...beware, AJJ.
Terminamos com a recordação do último Super-Herói a jogar na nossa Liga, com O Coisa, Fernando Aguiar.
Aliás, como se trata deste atleta, podem riscar a palavra "jogar" da frase anterior, e substituí-la com outro verbo qualquer. Qual? Não sei, nem tenho paciência para tanto. A sério. Deixem-me em paz. Desde que o significado seja de certa forma inverso, quero lá saber. Ninguém me paga para fazer isto.
P.S.: O Homem Invisível foi omitido desta lista por não haver imagens do dito cujo. As razões são óbvias. Primeiro, ele é invisível. Segundo, ninguém se lembra de ver o Farnerud fazer nada. Há relatos de que uma vez em 1998, o sueco terá feito a cama em sua casa. Mas não estava lá ninguém para ver.
segunda-feira, julho 21, 2008
Nas Asas da Saudade
O tema não é virgem… mas da terra onde Mitharski recuperou alguma da sua dignidade goleadora espera-se sempre qualquer coisa mais, assim como em cada defeso se espera por mais uma contratação de prestígio no domicílio da gaivota.
O F.C.Famalicão já não respirava os ares impolutos da liga principal. Mas ainda era uma família feliz.
Estavam aqui reunidos todos os predicados necessários para uma época em cheio. Não se descurou nenhum pormenor, nomeadamente:
- Um guarda-redes sósia do Fernando Couto, ou apenas alguém que tropeçou em cima de uma esfregona depois de besuntado em cola, ladeado por um esguio colega cujo fotógrafo ousou cortar da História;
- Um outro goleiro que cruza as mãos de forma semi-bíblica em honra ao seu patrocinador de luvas;
- Um dirigente com bigode e possuindo um gosto pelo kitsch digno de envergonhar qualquer Nel Monteiro;
- Uma equipa técnica onde pontificam indivíduos de bigode old-school e outros de boné e apito a tiracolo;
- Um sujeito gordo que seria a) o roupeiro, b) quem explorava o bar do clube, c) o dono da máquina fotográfica, ou d) uma infeliz coincidência espácio-temporal.
Como o tempo urge, debrucemo-nos sobre alguns casos particulares.O timoneiro desta nau, Francisco Vital, está ufano com o seu boné, inspirador de tendências Motianas e ocultador da calvície galopante. Quem não se lembra deste fantástico treinador nos seus noventa minutos de infâmia em Leverkusen? Fazemos questão de não olvidar.
Paulo Brás, o multicolorido e famoso guarda-redes que pediu emprestado o seu nome ao bacalhau homónimo. As más-línguas dizem que Brás apenas encontrou o seu espaço nesta galáxia de cromos por ter um gosto pelo vestuário semelhante ao do dirigente que se vê na foto de família. Todavia, isso são apenas atoardas de gente mal-intencionada. Paulo Brás era cromo por mérito próprio e isso vê-se pelo sorriso arrojado que conservava em qualquer situação, especialmente quando era designado a convidar Joãozinho a cessar o seu aquecimento e a entrar no glorioso relvado do Estádio Municipal 22 de Junho.
Joãozinho? Sim, Joãozinho, pequeno no nome mas grande na traquinice. Inseparável apreciador de rebuçados do Doutor Bayard, Joãozinho franzia o sobrolho perante as adversidades e tratava o perigo por tu. Recebia apenas um Sumol como prémio de jogo e ficava todo contente ao saber que, ao contrário do Capri-Sonne, o Sumol já tinha gás – algo que o enchia de orgulho, bem como de problemas do foro gástrico. Joãozinho conferiu uma lufada de ar fresco no balneário famalicense. Especialmente antes de se descalçar.
Quando Joãozinho se descalçava, Pica perdia a pica. Pica não suportava maus odores, especialmente os que não fossem dele. E, diz quem sabe, também não sentia muita pica para jogar à bola. Devido ao comprimento assombroso das suas unhas e à sua técnica apurada, furou algumas bolas e assim fez jus ao nome. Preferia coleccionar selos e calendários e detestava trocadilhos fáceis. Enfim.
Tó Mané, o Sérgio Conceição de Famalicão, construiu o seu afamado nome por estes lados. Todo ele estilo, todo ele classe, manejava com uma perícia inata qualquer substância gelatinosa que se assemelhasse a gel para o cabelo. Uma vez conseguiu um passe perfeito a 50 metros. Mas ninguém viu, o sonho era só dele. Monopolizou o comércio de azeite acima do Rio Ave e granjeou fama por ter resistido a um tufão na América Central sem que o seu cabelo se mexesse. Discutiu bastas vezes com Rosado sobre quem era o verdadeiro galã do balneário.
No fim desta viagem que nos fez gravitar nas asas da saudade, espera-nos o saudoso Medane, argelino que deu o corpo à expressão “cabelo à tigela”. Medane era a alma dos anos 90, na ressaca do fenómeno grunge. Também foi um avançado que se perdeu de amores pelas bolas bombeadas em profundidade e pelas franjas meticulosamente cuidadas do seu altivo cabelo, que limava como se de um Bonsai se tratasse no início e no fim de cada treino à porta fechada. Cerca de 1,65m de puro estrondo estilístico, que fez as delícias de qualquer aprendiz de barbeiro. Verdadeiro joker do Baixo Minho, Medane era sobejamente conhecido pela graça com que levava calduços de todo o plantel.
Como nota de rodapé, e embora não venha propriamente ao encontro do que já foi escrito nem seja algo de muito relevante para esta exposição, convém esclarecer que este portentoso plantel não recebeu as loas da glória e acabou despromovido no final da época 1995/96. Actualmente, o F.C. Famalicão deambula, em jeito de sombra errante, pela AF Braga. Snif.
sábado, julho 19, 2008
Take on Poll
Finalmente a associação possível entre uma votação situada na barra à direita e uma banda dos anos 80.
Assim já não tenho que inventar uma Poll com o nome do Hans Vimmo Eskilsson.
E já que falamos dele, deitem o olhito curioso à 12ª posição desta competição sem bola. Sempre soube que o sueco era um bluff. Não sabia era que tinha levado esse estado de espírito tão à letra.
P.S.: Uma bavaroise de Robaina para o colega João Loff pela chamada de atenção à semelhança entre estes dois cromos.
domingo, julho 13, 2008
Há vacas na Zâmbia?
Trata-se de algo invulgar, paradoxal, até.
Um cowboy zambiano com coração de artista. Pés aveludados sob um sombrero urbano de pós-modernismo vintage. Um bronzeado Caccioli sob o efeito de LSD. O Dibo séc. XXI com um chapéu porreiro. Uma brisa fresca após uma tempestada de verão.
As referências são extraordinárias. Durante a badalada festa do 12º aniversário de João Moutinho, que teve lugar na semana passada, Pedro Mantorras explicava ao seu filho mais novo (que é professor de educação física do prodígio algarvio) que teria ouvido relatos de inesperada grandeza vindos do zambiano Zesco United. A lenda crescera de forma mais célere do que uma incursão de Gaoussou Fofana pelo flanco direito dos estudantes: vinha aí craque, e dos grandes.
Rainford Kalaba, 1,64m de explosão e 56kg de descaramento, tudo embulhado num bonito pack magistralmente coberto por um chapelinho do mais fino recorte.
Porque il fantasista é assim mesmo - destemido, arrogante, desafiador das mais conservadoras opiniões sobre o que é realmente o futebol. Para ele, o futebol faz-se no momento, muda a cada segundo, inova-se a cada passe, surpreende a cada drible e emociona a cada carícia ao esférico. Com o pequeno cowboy Rainford a conduzir a manada bracarense, a evolução da espécie futebolística é apenas uma mera formalidade.
Porque sim.
Porque ele pode.
A lenda já chegou a Portugal, e a História reescreve-se as we speak. Em dois dias apenas, já nos presenteou com um milagre, como relata o impoluto diário "record":
"Kalaba mostrou que conhece os princípios do jogo e os movimentos, sendo que teve 26 intervenções durante o treino, tendo efectuado 18 passes, cinco dos quais errados, e cinco remates de meia-distância, obtendo um golo. Que mereceu as felicitações de Jorge Jesus. Em inglês, como uma espécie de homenagem."
Cá está, Cowboy Kalaba já fez Jorge Jesus exprimir-se em inglês. Logo ele, que se degladia há décadas contra a língua portuguesa, numa hedionda batalha que já fez mortos, feridos, e famílias enlutadas.
Continua assim, bravo cowboy, e o Mundo será teu.
quarta-feira, julho 09, 2008
Dacroce My Heart
Luiz Carlos Dacroce chegou a Portugal rotulado de craque. Antiga peça de relevo na engrenagem do Inter de Porto Alegre, foi feliz e contente que desembarcou nesse porto de abrigo chamado Beira-Mar, apenas a três anos de distância de ter marcado um golaço numa semi-final da Libertadores. Terá porventura pensado em repetir o momento pelos aveirenses na meia-final da então estreante Champions League?
Quiçá, pois apesar das partidas de Kangaroo-Kid Bozinovski e Milton "Smiley" Mendes, o plantel beiramarense gozava de grande prestígio em terras de Vera Cruz. Era a loucura entre os jovens brasileiros, que por todo aquele imenso País penduravam posters de Dinis e Krstic nos seus quartos. Ainda me recordo com doce candura dos porta-chaves com a efígie de Eliseu que eram ofertados aquando da compra de uma garrafita de Guaraná Brahma. Eram tempos de euforia, tempos de Acácio, tempos de Vítor Duarte. Foi pena a infame recusa de Serrinha, que na sua tão característica humildade, deu uma nega à vontade de Collor de Mello (o então presidente brasileiro) de rebaptizar a capital Brasília com o seu nome.
Voltemos então a Dacroce. Os sonhos de glória na squadra gialla ficaram pelo caminho, com um modesto 8º lugar, portanto longe da Liga dos Campeões. Dacroce não ficou de braços cruzados e fez uso do seu estatuto de craque para exigir uma transferência para um clube de renome. Seguiu-se o Belenenses, onde para não fugir à tradição, Mílton Mendes deu corda aos sapatos mal ouviu falar no nome deste centrocampista, refugiando o seu sorriso naquela mítica equipa madeirense que tinha alguns jogadores portugueses, mas dos quais ninguém se lembra.
Em Belém, terra onde Jesus não nasceu, o nosso homem voltou a não pegar de estaca, exigindo mais uma transferência após o mundialista David Embé o assediar constantemente nos treinos. A frase "o teu cabelo cheira a algodão-doce" foi suficiente para a PSP obrigar o camaronês a não se chegar a menos de 20m do brasileiro e aconselhar a direcção do clube a transferir o queixoso.
Isto leva-nos a Paços de Ferreira. Apesar de militar na II Divisão, o clube ofereceu-lhe um projecto ambicioso, que tornaria o brasileiro campeão de alguma coisa pela primeira vez na sua vida. Mas algo não batia certo. Desta vez, Mílton Mendes não teve a oportunidade de fugir do referido clube antes da chegada de Dacroce, simplesmente porque nunca jogou lá. Dacroce sentia-se desamparado. "Gosto sempre de ficar com o cacifo do Mílton. Ele deixa aquilo sempre tão arrumadinho e cheiroso. E decora-o com autocolantes do "tou". Gosto disso prá caramba."
Porém, os pacenses conseguiram convencer o quase-genial médio a assinar de qualquer forma, prometendo-lhe um cacifo melhor. Sempre estavam na Capital do Móvel. Foi assim que o convenceram. Isso, e uma carga de porrada que o defesa-central José Mota carinhosamente administrou a meias com Sessay.
Mas apesar deste início auspicioso, o trio de meio-campo Bozinovski/Sessay/Dacroce não conseguiu carregar a vila pacense à Divisão maior da nossa bola, e Dacroce exigiu a sua saída. Surpreso? Pois claro.
Nova paragem? Chaves.
Dacroce foi recebido com pompa e circunstância num airoso Municipal de Chaves ainda abalado com a abalada saída de J'aime "Zidane de Amarante" Cerqueira para Barcelos. Pétalas de rosas eram atiradas à sua passagem. Amarildo e Guetov presentearam-no com uma bela folha A4 com um desenho a lápis de côr da sua autoria. Manuel Correia deixou-o afagar o seu bigode. Daní Diaz, Míner e Toniño cozinharam-lhe um pratinho de pimentos padrón.
Dacroce respondeu com amizade: "Pimentos Padrón, uns pican e outros nón".
Frase essa que até hoje ecoa pelos húmidos, frios e desconfortáveis corredores do Municipal Flaviense. Por aí, e pela Europa toda, claro.
Mas mais uma vez, o final não foi feliz. O 15º lugar foi pouco para um homem habituado a grandes palcos e a meter 124 ervilhas na boca em simultâneo só com a ajuda do dedo mindinho.
Como tal, mais uma vez, pediu a disp...
Não.
Eis que vos enganais.
Luiz Carlos Dacroce, sempre imprevisível, decidiu continuar em Aquae Flaviae (a cidade, não o hotel cujos painéis publicitários forravam o Municipal de Chaves), dada a sua quentinha e aconchegada amizade com Zoran Bukcevic e Vinagre. Os três mantiveram-se no plantel para a época seguinte, que os viu miraculosamente atingir uma imaculada 10º posição no final, facto que não será alheio à contratação de 42 reforços, entre os quais se encontravam Tito, Luís Vasco, Putnik, Sabou, Parfait N'Dong, Matute e N'Tsunda.
Uma verdadeira All-Star Team cromíflua, cuja fartura de incandescentes estrelas levou o ofuscado Dacroce a partir para paragens onde pudesse, de uma vez por todas, assumir o papel de Deus incontestável, um pouco à imagem de Alfredo Bóia no Desportivo das Aves.
Assim, e com o objectivo meia-final da Champions League sempre no horizonte, decidiu sabiamente embarcar numa aventura por terras gregas, onde representou verdadeiros dejectos mal-cheirosos em forma de clube como o Apollon Kalamarias e o Messianiakos.
Desiludido, abandonou o futebol em 2003, uma época DEPOIS de Mílton Mendes abandonar a prática da co-habitação sorriso/bola na poderosa formação do Machico. Mas nos nossos corações perdura a tua imagem com a camisola do Barça, letreiro branco Tintas Europa 24m x 12m no peito, e a boca cheia de ervilhas.
Boa sorte, Cross.
terça-feira, julho 08, 2008
Vicente & Cerqueira
Nada mais erróneo. As aventuras deste lendário construtor civil no não menos fantástico galinh… er, estádio, Adelino Ribeiro Novo já foram correctamente dissecadas em tempos idos.
Aquilo que eu quero aflorar é a solidez compacta deste duo defensivo que deixou marcas no Alto Tâmega no derradeiro estertor da década de 80.
A cidade de Flávio, aclamada por ter acolhido monstros sagrados da estirpe de Putnik, Saavedra ou Zdravkov, também se celebrizou pela guarida que proporcionou a esta dupla de betão que o cromo tão bem ilustra.
Vicente, o duro, olha com desdém para o fotógrafo. A sua boca conserva o molde típico de quem está acostumado a brincar com um palito de madeira, mas o palito não está lá, provavelmente por ter ficado retido no balneário – quem sabe se escondido por Jorge Silvério ou por Luís Saura, numa das suas costumeiras traquinices. E isso enraivece Vicente. O seu rosto adopta uma expressão de rufia temerário que pede meças àquela que Armando “Le Petit” Teixeira assume nos seus diálogos existenciais com o árbitro. Vicente lança o alerta: está disposto a morder o mais afoito avançado que ouse perturbar o seu raio de acção, seja ele o “papa” João Luís II ou o arisco Forbs, já que a foto foi tirada no velho Alvalade XX. O seu cabelo pende teimosamente para a frente, escondendo os olhos chispando sangue de tanta fúria. Vicente está claramente apostado em demonstrar que é ele o mandão para lá do Marão. O fotógrafo sente-se intimidado e afasta as suas atenções de Vicente, antes que seja surpreendido por uma cabeçada do mesmo.
E então volta-se para Cerqueira. Incapaz de controlar o seu raivoso parceiro, Cerqueira, o Tony Danza transmontano, posa com dignidade para a posteridade. Denota um certo enfado, é certo, mas mantém a tranquilidade que Vicente não se esforça por manter. Cerqueira foi, por si só, um exemplo de profissionalismo e abnegação e nunca cedeu à moda do bigode, nem quando mereceu a companhia desse verdadeiro contraplacado humano que era Manuel Correia. Mas há mais. Cerqueira não só se notabilizou por lances de magia pura no rectângulo verde (como eram belos os irrepreensíveis atrasos para o seu guarda-redes, que ainda podia agarrar a bola naquele tempo…), como também por ter falhado miseravelmente no casting para a última temporada de “Chefe, Mas Pouco”, ao não conseguir desviar os olhos da ainda jovem e sempre imberbe Alyssa “A.C.” Milan(o).
Resultado: Hollywood perdeu uma vedeta, mas o Grupo Desportivo de Chaves ganhou um razoável defesa, capaz de temperar a ira de Vicente com toques de personalidade espalhados aqui e ali nas canelas dos avançados contrários.
O patrocínio diz tudo: com oponentes deste calibre, tudo o que os dianteiros adversários podiam ambicionar era um copinho de água, mas beberricado com moderação. Nada de golos. “Golos não, galos sim” era o lema desta inefável dupla.
sábado, julho 05, 2008
"Preliminarus Poll Renivaldo Pereira de Jesus"
A "Preliminarus Poll Renivaldo Pereira de Jesus" já está online, colocada a partir da mesa wireless na pizzaria do Caccioli em Barcelos. Pedimos uma pizza alpina, visto que esta murrinha irritante nos inibe de pedir a veranesca tropical. A alpina tem bacon, Brundin e azeitonas. Valeu pelas azeitonas, porque normalmente ponho o Brundin de lado no prato.
O Caccioli perdeu as estribeiras porque supostamente eu deveria ter dito que preferia antes Octaviano com o bacon. Lá foi mais Brundin para o lixo. E tantas famílias por aí a precisarem disso.
Adiante. O comité reuniu-se na dita mesa, cuja toalha parecia o equipamento da União de Leiria na Era Bambo, e decidiu convocar os seguintes nomes:
- Ronny (need I say more?)
- Jaime (quem falha um penalty à Panenka no final de um jogo importante e rescinde logo de seguida, tem lugar em qualquer poll. QUALQUER.)
- Zoro (um digno sucessor de Jorge Soares, King ou Bermudéz)
- Edcarlos (um digno sucessor de Topo Giggio)
- Gladstone (mau, péssimo, paupérrimo)
- Marian Had (quem?ah, pois...)
- Andrés Diaz (mantenho a minha: UM minuto no campeonato tem que ser um recorde)
- Lino (faz o pessoal ter saudades de Ezequias - e isso diz tudo)
- Luís Filipe (o verdadeiro ficou em Braga - este é um E.T. enviado pelo Vasco Granja)
- Jessuí (“Quero chegar e rebentar”, avisa Jessui, o novo avançado leiriense. KABUM.)
Força nisso, minha gente. Armando "Le Petit" Teixeira, Delson, Mrdakovic e Edu Castigo aguardam por companhia masculina para prosseguir a festa.
quarta-feira, julho 02, 2008
Quem? Como? Porquê?
Não propriamente das suas arrancadas velozes, nem do seu drible estonteante, nem da sua capacidade atlética, nem do poder de antecipação, nem mesmo do seu remate fulminante e espontâneo.
Lembro-me apenas que Hanuch existiu.
Algures entre Didier “Martini Metz” Lang e Jovan “I’m the real thing” Kirovski, houve um Hanuch ululante no balneário do leão. Qual OJNI (Objecto/Jogador Não Identificado), Hanuch ainda hoje assombra as memórias dos mais cépticos cromos. Sretenovic e Buturovic entreolham-se espantados, não acreditando que é possível ser-se tão anónimo, enquanto Ivo Damas resigna-se ao conforto de uma Tagus em promoção e Arnold Wetl canta um tirolês nervoso para descomprimir, escondendo-se atrás da selvagem penugem de Paulinho César.
A imagem que a seguir reproduzimos é extremamente rara – possivelmente será montagem: Hanuch… a festejar depois de ter encontrado o caminho das redes? Hanuch, apesar do seu low-profile, fascina. Fascina por motivos desconhecidos, como desconhecidos foram os motivos porque Sporting e Benfica se digladiaram por este fantasma dos balneários no longínquo ano de 1999 e desconhecida é a sua propalada qualidade futebolística.
Tanto assim é que a Wikipedia (que não está só) mantém um registo actualizado do jogador. Sabemos agora que somou 10 presenças com a camisola verde-branca (será que contam as vezes que espreitou o campo desde os túneis de acesso?), iluminou os caminhos de fortuna do poderoso Platense, alegrou a canalha do Santa Clara e caiu que nem uma luva na mesa do emergente Talleres, possivelmente no papel de colher de sobremesa. Recentemente, parece que agendou uma visita à reconhecidamente afável Albânia, para ver como estava o ambiente no sempre interessante Dínamo Tirana – onde teve a boa companhia deste simpático lateral-direito, cujo nome promete fazer furor se algum dia vier a jogar na liga lusa que outrora foi de Calado.
Mais intrigante é o facto de Hanuch surgir no célebre Football Manager, como em seguida demonstramos:
O comentário que vinha adstrito a esta imagem era: “old and average”. Abstenho-me sobre mais comentários a propósito de Maurício “El Fantasma” Hanuch.
terça-feira, julho 01, 2008
Anderson POLLga Ataca de Novo
Saudamos vivamente o vitoriano Mrdakovic e o simpático Edu Castigo, pois os seus progenitores conseguiram escarrapachar-lhes nomes de tal ordem imbecis, que praticamente obrigaram o Universo a encaixá-los no panteão dos imortais.
Prosseguimos então com a corrida para o prestigiado galardão de Cromo do Ano de 2007. E desta vez prometemos ser mais breves, senão quando terminarmos a votação já estaremos em 2009. Certinho.
Depois da Preliminarus Poll Nominalus, segue-se a "Preliminarus Poll Renivaldo Pereira de Jesus" para premiar os mais desinspirados desempenhos em campo do ano civil de 2007.
Altos, baixos, Gisvi, gordos, baixos, com bigode, Gisvi, sem bigode, Gisvi, com mullet, cabeça rapada ou cabeleira à Hans Vimmo Eskilsson, tudo o que vem à rede é Gisvi. Aqui o que interessa é mesmo a capacidade de utilizar os dois pés (ou um - não somos esquisitos) como um par de tijolos mal amanhados.
Os dois mais votados irão ganhar uma viagem em 1a classe para a Supra Poll Final, onde já estão confortávelmente alapados Armando "Le Petit" Teixeira, Delson, e os recém-chegados Mrdakovic e Edu Castigo. Que partilhem o trono de forma ordeira, e comentem o cheiro a relvinha fresca de manhã (coisa que César Peixoto nunca experimentou, pois da única vez que viu relva da parte de manhã, foi quando acordou numa poça do seu próprio vómito ao lado de uma vaca malhada num campo em Oliveira de Azeméis).
Ora, antes de arrancarmos com a novel Poll, queremos a vossa opinião sobre os nomes que a poderão preencher. Não sejam parcos em arremessar-nos os Luíses Filipes deste mundo. Encham-nos a caixa de comentários de mrda(kovic).
Kmet Pena
Kmet era um diamante em bruto e portanto foi pago como tal. Afinal, seria um putativo “novo Maradona”. Jogaria exemplarmente pela banda esquerda… mas depois também já jogava com a mesma bitola exibicional pelo meio… e consta que também se ajeitava pela direita. Os corações palpitavam por Kmet. Custou aproximadamente o mesmo, mais milhão, menos milhão, que outra grande promessa acostada na temporada anterior ali perto do metro do Campo Grande, de seu nome Carlos Miguel, esse dispendioso meteoro que cruzou a galáxia futebolística lusa com uma impressionante técnica para aquecer as frias bancadas de betão dos estádios portugueses pré-Euro.
O sucesso foi igualmente semelhante ao do seu comparsa brasileiro. Ambos verdadeiros filósofos da bola, ambos mestres na jogada culta, ambos elegância e souplesse, ambos muito adeptos da primazia mental sobre o bruto esforço físico. Os dois pensavam, teorizavam, dissecavam e matutavam sobre as propriedades do esférico a rolar no rectângulo verde. Paravam no campo e pegavam na pelota, transmutavam-se em Hamlet e o globo de cautchu transformava-se em caveira e perguntavam “Ser ou não ser [jogador], eis a questão”. Enquanto isto, Luís Vidigal & Cia. faziam-se à vida e corriam pela redondinha, eventualmente maltratando-a, mas dando-lhe movimento.
Kmet desesperava sofregamente por uma oportunidade de dar uma aragem de superioridade cerebral dentro de campo. O seu sonho era ministrar uma palestra sobre a beleza poética de uma bola parada em cima de um relvado acometido por uma suave brisa vespertina. Desesperou tanto que o cabelo ganhou madeixas louras – se fosse mais velho, tipo Acosta, ganharia os cabelos brancos da praxe. Mas Mirko Jozic não estava para aí virado, pois Bruno Marioni (aka Giménez) e César Ramirez davam espectáculo nos treinos a fintar cones laranjas, para grande deleite de todo o plantel, excepto para Krpan, que piorava a sua situação ocular perante todo aquele potencial técnico da diabólica dupla sul-americana.
Kmet jogou apenas os mais belos 14 minutos da história do futebol português, plenos de sagacidade e acutilância mental. Era muito pouco para tão grandes aspirações.
Então Kmet voltou para onde tinha sido feliz – o colossal Lanus. Passados uns meses, já com o antipático Jozic fora da nau verde, regressou à terra de Quim Berto para explanar a sua tese de mestrado em futebol amorfo ao dr. Materazzi, célebre por ter incubado um pequeno Frankenstein, Marco de seu nome.
Porém, estava escrito nas estrelas que Kmet, lamentavelmente, não singraria. As mentalidades ainda não estavam suficientemente preparadas para todo aquele arrojo intelectual e desprendimento físico que fazia Pedro Barbosa parecer a locomotiva desenfreada do “Regresso ao Futuro – parte III”.
De Kmet sabemos que exibiu toda a sua vitalidade capilar pelas pampas em clubes como o Estudiantes e o Newell’s Old Boys, com mais ou menos madeixas, mais ou menos movimento. E hoje, com 30 anos, continua a ser dos jogadores mais incompreendidos a ter passado pelo futebol indígena. Incompreendidos ou incompreensíveis, tanto faz.